"un pedacito del planeta que no pudieron no!"

Um cantinho do Brasil, orgulhosamente no Pampa Gaúcho, que quer fazer a diferença,
enxergando e discutindo problemas globais e discutindo e realizando soluções locais .

Nossos textos e viagens...



            A luta continua, mas, que luta?
Já faz bastante tempo, alguns anos, que dentro de debates políticos vivencio a discussão do anti-capitalismo, da luta de classes, e as inúmeras formas que o capital vem agindo sobre o globo, de forma que hoje somos esmagados por ele em qualquer canto do mundo. Não é novidade pra ninguém que o modo de vida ocidental vem dominando o globo terrestre, transformando os povos em culturas homogenias capazes de negar e até mesmo extinguir suas culturas originais.
            No debate do campo, até ontem olhávamos para a Revolução verde chefiada pelos Estados Unidos, pós segunda guerra como o marco de mudanças profundas no sistema de produção mundial do campo. Mas, talvez possamos ir além com estas análises.
            Hoje quando discutimos sobre os problemas do campo, podemos perceber que as mudanças foram muito além do sistema de produção, a forma de expulsão do campesino foi se modificando, e o campesino foi aderindo a idéias do capital sem perceber, ou refletir profundamente sobre tais metamorfoses.
            Numa realidade não tão longínqua, no início do Movimento Sem Terra, tínhamos o perfil de pessoas expulsas de suas terras e de filhos de camponeses, que na época tinham muitos filhos, se organizando para retomar algo que lhes era de direito, a terra, para produzir e recriar suas famílias, suas raízes. Durante alguns anos foi assim, mas não foram muitos. Mudanças de coisas fundamentais para continuidade desta classe foram acontecendo, e a falta de análise crítica propiciou que os camponeses fossem sumindo gradativamente.
            Todos descendentes de camponeses já ouviram as histórias de como eles chegavam as escolas, eram quilômetros à cavalo ou à pé, todo tipo de dificuldade, e também, um apoio incondicional dos pais para que seus filhos estudassem. Naquele tempo, reivindicar por escolas no campo era algo muito longe de suas pautas familiares, visto que o estudo era algo limitado as classes dominantes e ter um filho estudado, formado era algo tão sublime que “valia à pena o sacrifício”. Mas este processo veio a impactar de forma brutal a realidade daquelas famílias, assim que os pais destes novos “Doutores” foram envelhecendo, foram saindo do campo, sem ter pra quem deixar suas terras e sua cultura já que os filhos estudaram para ganhar o mundo e assim o fizeram.
            A diminuição do número de filhos foi outro fator que penso ser muito importante, e totalmente considerável no processo de extermínio do camponês. No processo de produção, no plantio das lavouras, no trato com os animais, no tirar leite, na construção de cercas e dos prédios, galpões e casas, a mão-de-obra familiar era responsável pelo sucesso de tudo. A enculturação da modernização e padronização de processos produtivos de tudo fez com que se tornasse, ou viesse a se acreditar, que quanto maior o número de filhos, mais difícil seria de criá-los. Assim, na medida em que os camponeses diminuíram a sua reprodução e destinaram seus filhos a cidade com o estudo voltado a realidade urbana, obrigatoriamente tiveram que se incluir no processo de modernização de produção, visto que sem o trator, sozinhos não conseguiriam mais plantar. Sem o pedreiro, sozinhos não conseguiriam mais fazer suas casas. Sem o alambrador, sozinhos não conseguiriam fazer suas cercas. Sem a ordenhadeira, sozinhos não conseguiriam tirar seu leite. Sem a comparsa, sozinhos não conseguiriam esquilar suas ovelhas. E como estas muitas outras coisas que sozinhos deixaram de fazer. E é claro, talvez a mais importante, sozinhos e sem ter quem aprenda o ofício, já que todos saem para estudar para fazer a vida no mundo, vão para as cidades quando não tem mais saúde suficiente para fazer o trabalho, com as novas doenças geradas pelo novo modelo de vida cai também sua expectativa de vida e claro, não tem atendimento médico digno no interior.
            Ao longo dos anos, criou-se uma imagem de que “quem fica no interior, é quem não tem serventia, não tem inteligência”, isso é uma dolorosa realidade. Mas pesa bastante, talvez seja ela o mais forte motivo para o incentivo incondicional dos pais a saída dos filhos do campo, não só da zona rural de fato, mas das pequenas cidades interioranas também.
            Talvez hoje, estejamos vivenciando o pior ataque do capital, tendo o domínio total das zonas urbanas totalmente industrializadas, com seus exércitos de reserva fartos, a beira do caos total, a zona rural vem sendo dominada aos poucos, com jogos muito bem feitos, praticamente estratégias de guerra. O domínio do território, latifúndios não mais improdutivos (socialmente inúteis), não somente a compra direta de terras, mas também a utilização dos médios e pequenos proprietários para o cultivo que eles denominam. O domínio das leis de terras, ambientais, o domínio do governo que anda por onde eles vem traçando o caminho. A não produção de comida, hoje se produz mercadorias, tudo que se produz hoje é mercadoria, o sistema de mercar tudo que se produza com qualquer tipo de interferência do homem, seja ela plantar ou “achar” os produtos.
            E pra matar de vez quem ousar viver no campo, está vindo a galope a mercantilização da água (antes de subir à terra) e o ar (créditos de carbono e outras coisas mais). O pequeno que por toda história da humanidade vem conservando os ecossistemas, os biomas, hoje vem sendo triturados por leis totalmente absurdas, incoerentes com a permanência de pessoas no campo, já nem falando de como produzir mas, de como viver no campo com todas estas leis esmagadoras que tornam impossível a vida do camponês.
            Temos pela frente batalhas de desmedidas proporções e conseqüências, e temo não estarmos suficientemente prontos para travá-las. Falhamos em alguns momentos, derrotas que nos concederam lições. O que fizemos com elas?
            É momento de refletir sobre a realidade, somando o resultado de nossos erros para que possamos enxergar com clareza o caminho que nos tira deste trilho que o capital forjou para nós. Erros de estratégias, de objetivos, de ações e principalmente de leituras.
            Nosso caminho é longo, e a importância dele o faz distante, difícil e desejável. Penso que não devemos deixar de querer chegar, mas devemos tornar o caminho prazeroso, pois podemos estar perdendo a beleza do trajeto imaginando um mundo que provavelmente não veremos, e quando nos formos poderemos ter vivido toda uma vida na busca de algo que pode não ser desejado por aqueles que ficam.
            O que podemos fazer hoje a fim de mudar nossas vidas? Aplicar o que conhecemos e já sabemos pode ser algo maior do que pensamos, o empírico.  Acredito sem dúvida que hoje o nosso maior problema, nosso de quem luta contra o capital, não é mostrar para as pessoas os problemas que ele causa e as conseqüências catastróficas que ele proporcionará, mas a cobrança instantânea é de que saídas nós temos pra apresentar? Por mais que tenhamos várias saídas, vários conhecimentos, temos dificuldade de colocar em prática muito do que sabemos, penso que tenhamos dificuldade de apresentar com essa tal clareza o que realmente queremos. A esquerda como um todo parece ter ruído perante a falta de domínio sobre os temas aonde o capital veio dominando com muita sabedoria, criaram temas, levantaram debates e nós correndo atrás na tentativa de reverter o irreversível.
            Do que vivemos hoje, o que não provém do capital? O que de nossa cultura ainda carregamos? Existe algo a resgatar ou devemos recriar? Dos erros que cometemos, o que foi de nossa autoria e o que foi emboscada? Onde estão nossas verdadeiras batalhas?
            Temos muitos campos de batalha, os três poderes, a mídia, a igreja, as escolas e os núcleos familiares, são milhares de lugares e teremos que ser milhões para iniciar este processo. Penso que o mais importante hoje seja reconhecer aliados, fazer alianças e ampliar ao máximo nosso pelotão de luta que poderá não usar nenhum fuzil e muitas ferramentas na construção de algo novo.
Marília Gonçalves



O ambiente não é do animal humano.

O humano animal faz parte do ambiente; primeiro o ambiente natural, depois o ambiente cultural.
Nós estamos inseridos no ambiente, como todas as formas de vida. Fatos que modificam o ambiente de forma constante e rápida deve-se à interferência humana no ambiente natural; a forma drástica de modificação no ambiente natural deve-se às necessidades criadas pelo humano, a cultura. A cultura é cria humana, costumes criados para suprir necessidades inexistentes. A comodidade contribui de forma decisiva no extermínio do ambiente como um todo, momento este que poucos desfrutam, mas que todos sonham alcançar. A maioria dos viventes desse "salve-se quem puder" sofrerá até a morte a pena de pagar para viver. Meio ambiente não basta. A lógica mostra: temos que nos adaptar ao meio, não o contrário.



?

Felicidade. O quê?
Meio ambiente. Por quê?
Sustentabilidade. Como?
Progresso. Onde?
Cultura. De quem?
Desenvolvimento. Pra quem?
Liberdade. Quando?
Determinar o significado das palavras,
forma de opressão de humano para humano.
Bombardeio diário dos Meios de Manipulação de Massa,
onde explicitar meia notícia tornou-se cotidiano.
Comer o que faz mal é normal.
Ter o Tiririca no Congresso é possível.
Consumir é necessário.
Enquanto isso passa o tempo,
logo ali acaba nossa vida
nesta história sem pé, nem cabeça.
(Mônica Gonçalves)


Na luta contra o agrotóxico, precisamos de uma luta pró!
Nestes últimos dias tenho pesquisado mais do que o normal (muito) sobre os malefícios dos agrotóxicos. É quase infinito o número de sites, blogs, páginas, textos, trabalhos de universitários, entre outras coisas que falam abertamente com comprovações científicas ou não, dos problemas à saúde e ao ambiente.
Não tenho dúvidas, de como é fácil mostrar para as pessoas o quanto é perigoso usar agrotóxicos, e tenho várias experiências de conversar com as pessoas e delas entenderem e concordarem, mas vem a tal pergunta -"tudo bem, mas se eu não usar isso vou usar o que?"- e quando você começa a explicar que dá pra fazer isso  ou aquilo, bem a conversa termina na maioria das vezes assim -"mas tu acha que eu tenho tempo pra isso?".
Bem, vivemos muito tempo, muitos anos com um grande trabalho deterioração da cultura dos campesinos que pra cá vieram e muitos deles trocaram experiências como os índios que aqui viviam, criaram então uma nova cultura, uma cultura que formaria então, o que hoje temos como mais próximo de nossa origem campesina.
Este modelo de produção que conhecemos hoje é relativamente novo, do ponto de vista histórico, mas mesmo jovem, este modelo já ultrapassa gerações e muitas famílias hoje não tem idéia de como as coisas funcionavam antes da existência de toda essas novas tecnologias.
Juntando muitas coisas que vagavam dentro de minha cabeça, perdidas, que não permitiam que eu conseguisse enxergar além do horizonte, hoje me esclareceram algumas destas coisas...
A pouco tempo, conversava sobre a publicação da revista Agriculturas que falava do financiamento para transição da agricultura convencional para agricultura orgânica, no início me pareceu uma coisa meio besta, porque a agricultura orgânica permite que eu possa trabalhar quase tudo com nenhum custo financeiro direto, aí está!
No primeiro momento pensei objetivamente que , já que o capitalismo inseriu tanto dinheiro pra transformar as coisas no que agente conhece hoje, porque não faze-los pagar por nossa recuperação? Mas, a coisa é mais profunda que isso.
Já faz algum tempo que alguns amigos me falam da importância de criar uma Empreiteira de Bioconstrução, para mim e para as pessoas que "trabalham" com agente isso é quase uma piada, e realmente não levei isso a sério, mas começo agora a juntar algumas peças deste dominó.
Assim como o agricultor que parou de usar os bois que lhe exigiam um tempo enorme de cuidado e tornavam o trabalho muito lento(mesmo que melhor) e lhe impossibilitavam de aumentar sua lavoura, não quer parar de usufruir da modernidade de um trator, que não pasta, não toma água, não precisa ficar na sombra, não para pra descansar, não abicha, não adoece, não morre, só precisa de dinheiro, a pessoa que estuda a vida inteira, se forma, consegue um trabalho na sua área(ou não), mas trabalha pra ganhar dinheiro, ele entende a importância de uma casa de terra, com resgate de técnicas, é super ligado em ecologia, só consome produto orgânico, mas, não quer aprender a fazer sua casa, aliás, até pode querer mas hoje sua realidade não permite que ele pare de trabalhar para gerar dinheiro(mais para o patrão que para ele), e é isso que ele sabe fazer, é para isso que ele foi educado toda sua vida, dentro de casa, na escola, na faculdade, nos cursinhos, nas especializações. Não tem como exigir mais que um "consumo consciente".
Acredito que já temos uma clareza legal de onde queremos chegar, mas precisamos melhorar e muito no estudo, na dedicação, no desenho do caminho que temos a percorrer, o que vejo é que temos muitos com uma mesma visão além do horizonte, mas não estamos afinados pra andarmos na mesma picada,  sinto que alguns destes caminhos não está indo pro mesmo lugar.
Os pequenos precisam de perdão de dívida? Com certeza! Mas precisamos de um programa sério de transição para agricultura orgânica e agroecológica, uma agricultura mais do que saudável, uma agricultura independente, precisamos de mais conhecimento sobre Economia Solidária, precisamos de projetos sérios dos Governos de nos permitam, nós, agricultores orgânicos e agroecológicos sejamos mais do que pequenas ilhas, que sozinhas não funcionam e não servem de exemplo para ninguém.
Queremos um Brasil Zona Livre de Transgênicos, de Agroquímicos, um Brasil que produza alimento, e não royaltes.
É isso...