Em pratos limpos
Por: João Peres, Rede Brasil Atual
“Agrotóxicos no Brasil – um guia para ação em defesa da vida” traça um panorama da utilização dos venenos agrícolas, da legislação nacional e do não cumprimento da mesma
As grandes extensões de terra têm sido sinônimo do casamento entre transgênicos e agrotóxicos (Foto: Valter Campanato. Agência Brasil)
Está disponível para download o livro “Agrotóxicos no Brasil – um guia para ação em defesa da vida”, escrito pela pesquisadora em agronomia Flavia Londres. A obra é exatamente o que promete o título: um guia para quem quer saber mais sobre os impactos dos venenos agrícolas na saúde, na economia e na vida social brasileira.
Texto simples, capítulos curtos, o livro cumpre o propósito a que se propõe, que é informar de maneira didática aos não iniciados no assunto. Aos que acompanham cotidianamente o tema, a obra pode servir de apoio para a consulta a dados e mesmo para relembrar antigos casos, tão pouco divulgados quanto assustadores.
Outra vantagem é que Flavia não tenta ocultar sua posição. É, além de pesquisadora, uma militante contra os agrotóxicos, o que está exposto desde o nascedouro da publicação apoiada pela Rede Brasileira de Justiça Ambiental e pela Articulação Nacional de Agroecologia.
O livro vem em boa hora. Desde 2008, o Brasil lidera o ranking mundial de uso destas substâncias, e crescem as pressões de fabricantes contra restrições impostas pela legislação atual. A autora volta aos primórdios do uso dessas substâncias, ainda que de maneira rápida. Lembra que a introdução em larga escala de agrotóxicos remete à Revolução Verde, na segunda metade do século passado, momento em que se passa a desconsiderar os dez mil anos em que se promoveu uma agricultura livre de riscos do gênero.
O livro não se furta também à tarefa de argumentar sobre as conexões entre venenos e transgênicos. A promessa inicial de um uso, digamos, mais elegante de herbicidas nas lavouras de sementes geneticamente modificadas não se cumpriu. Mostra disso é que hoje o glifosato, usado amplamente em plantações deste tipo, é o produto mais vendido no país. A substância é um forte herbicida, que mata ervas daninhas ou não. A modificação genética em parte dessas plantas é justamente para permitir que elas resistam ao produto.
É realizada também uma análise da legislação em vigor. Para a autora, os mecanismos hoje existentes, se cumpridos, seriam suficientes para mudar radicalmente o panorama, com a punição do uso inadequado e, mais que nada, o combate à venda ilegal e ao contrabando. São apresentadas também as boas leis estaduais e municipais, como as que aplicam de imediato as restrições impostas na nação de origem do agrotóxico.
A este respeito, a autora se debruça sobre as reavalições toxicológicas conduzidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a proibição ou o aumento das exigências sobre determinadas substâncias. Ainda assim, isso não impede que princípios ativos banidos do país apareçam em alimentos consumidos cotidianamente, em um quadro alarmante que pode levar a intoxicações severas e, em fase avançada, ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer.
Como o mal está aí, o melhor é conhecê-lo.
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