No último mês, o jornal estadunidense Washington Post publicou uma longa reportagem da Reuters que, entre outros assuntos, relata evidências de que o herbicida glifosato usado nas lavouras transgênicas Roundup Readyprovoca danos no desenvolvimento das raízes das plantas: ou seja, a tecnologia usada para facilitar o manejo das ervas espontâneas acaba adoecendo a própria lavoura.
A reportagem fala de Robert Kremer, um microbiologista do governo estadunidense especialista em solos cujo laboratório está situado na Universidade de Missouri, literalmente na sombra do Auditório Monsanto. Na linha de evidências discutidas já há mais tempo, descobertas recentes de Kremer e outros pesquisadores estão levantando “novas” preocupações sobre os produtos da Monsanto e apontando a ineficiência das agências do governo estadunidense.
Kremer trabalha na área de solos do Serviço de Pesquisa Agrícola do USDA (Departamento de Agricultura do Governo), e nos últimos anos vem realizando testes sobre o crescimento das plantas que mostram a destruição de sistemas radiculares em plantas transgênicas tolerantes ao glifosato.
Nos experimentos de Kremer, as folhas das plantas transgênicas expostas a aplicações do herbicida mostraram-se imune ao tratamento químico. Mas não as raízes. “O glifosato liberado no solo parece estar afetando o crescimento das raízes e os microrganismos benéficos associados às raízes. Precisamos entender qual é a tendência de longo prazo”, disse ele.
A adoção das lavouras transgênicas tolerantes ao glifosato provocou um drástico aumento no uso do herbicida nos EUA. Paralelamente, alguns cientistas dizem haver indícios de aumento de doenças fúngicas em raízes, assim como deficiências nutricionais em lavouras Roundup Ready. A deficiência de manganês em soja já se tornou um problema em importantes áreas de produção, incluindo os estados de Indiana, Michigan, Kansas e Wisconsin.
Pesquisa divulgada no Brasil em 2007 já informava que planta contaminada com glifosato tem o crescimento de folhas e raízes diminuído, além de perda de resistência contra doenças, mesmo com doses baixas do agrotóxico.
A reportagem da Reuters lembra que em outros lugares pesquisadores têm chegado a evidências de que o uso de glifosato pode também estar relacionado ao surgimento de câncer, abortos e outros problemas de saúde.
Kremer faz ainda um alerta sobre o fato de os órgãos reguladores não prestarem atenção aos riscos potenciais da tecnologia. “A ciência não está sendo considerada na política sobre o assunto”, disse o cientista. “Esta pesquisa é importante. Precisamos ser vigilantes”.
No Brasil, o efeito de longo prazo do glifosato sobre a biota do solo pode ser ainda mais devastador, dada a importância das bactérias fixadoras de nitrogênio nos sistemas de produção de soja.
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Com informações de:
“Special Report: Are regulators dropping the ball on biocrops?”, da Reuters, publicado no Washington Post em13/04/2010.
Yamada, T.; Camargo e Castro, P. Efeito do glifosato nas plantas: implicações fisiológicas e agronômicas. International Plant Nutrition Institute. Informações Agronômicas, n. 119. set.2007.
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