"un pedacito del planeta que no pudieron no!"

Um cantinho do Brasil, orgulhosamente no Pampa Gaúcho, que quer fazer a diferença,
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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Crise do cuidado?!



Bem, não é de hoje que ouço falar na tal crise do cuidado, e vejo então a necessidade de pensar melhor sobre isso.
Recebi, então, um comentário que dizia entre outras coisas que a crise não é do sistema ou política, mas sim uma crise do cuidado. Realmente tenho dificuldade de enxergar as coisas desta forma. Afinal pra mim o sistema a política e o cuidado estão dentro da mesma coisa... Tentarei me explicar.
Creio que quando falam de cuidado estão se referindo ao trato entre pessoas, entre seres humanos que não mais se enxergam como seres humanos, passaram a se enxergar como coisas. Na maioria dos casos se olham como adversários num campo de batalha (mercado de trabalho) e é claro, não querem ser derrotados e fazem qualquer coisa pra ganhar. Bem, achar que a falta de humanidade e racionalidade no ser humano é crise de cuidado, sim é, mas penso ser muito leviano não querer ou não se dar o trabalho de pensar que o processo é bem mais profundo do que isso.
As coisas chegaram neste ponto. Sim. Mas, porque? Acredito que seja normal que se questione o que fez com que a humanidade chegasse neste ponto, onde não podemos de forma alguma nos iludir que eleger A, B ou C vai fazer diferença, no máximo o que pode mudar é que apanhamos mais de uns e menos de outros (literalmente apanhar), mas de fato não será modificado nada no que diz respeito ao sistema aos quais todos os governos estão amarrados. Dizer que o problema é das pessoas é no mínimo isentar o sistema Kapitalista de sua grande responsabilidade na mudança de valores da humanidade. Não acredito que as pessoas não se sentem comovidas por catástrofes, sim elas se sentem, mas o que impede que elas ajam coletivamente para melhorar as suas vidas e as vidas dos que as rodeiam? Bem, não será algo maior que elas? Eu realmente penso que sim, não posso fingir que o sistema nada tem haver com isto, visto que enxergo que o sistema tem haver com tudo. Porque somos monogâmicos? Porque as mulheres são tratadas como seres inferiores aos homens? Porque a rebeldia da adolescência é repudiada a qualquer custo? Porque os velhos não têm nenhuma função na sociedade que vivemos? Porque somos obrigados a mandar nossos filhos para escola porca pública? Porque somos obrigados a votar? Porque defendemos a propriedade privada se não temos nada?
Gente, pro Kapital é muito cômodo, e não só cômodo como apropriado, que fiquemos nós pensando em coisas que amenizem o sofrimento de alguns. Sim, alguns, porque enquanto existir desigualdade social existirão pessoas fartas e pessoas famintas. É a lei do mercado, ter exército de reserva, mão de obra barata, políticas compensatórias para amenizar a fome. Bem, se isso não tem nada haver com o sistema, me interna que eu to loca.
Reproduzimos os valores do Kapitalismo, os cuidados que interessam ao K, não por nossa espontânea vontade, mas por ter isso internalizado e a reprodução é automática, e esse é o nosso problema, nosso enquanto pessoas que querem modificar isto. Se entre nós não conseguimos enxergar as coisas da mesma forma, como iremos lutar contra algo que alguns de nós se recusam a enxergar?
Passamos anos e mais anos fazendo a leitura da conjuntura que nos rodeia, o sistema burguês, penso que tenhamos que passar ao ponto de estudar como nós, proletariado, mais profundamente para que possamos enxergar até onde o K nos domina. E mesmo que enxerguemos que ele está entranhado em nós, precisamos enxergar como iremos nos livrar dele. Não que acredite em fórmulas, mas precisamos de uma estratégia clara, com táticas inteligentes.
A única coisa que eu realmente acredito que não precisamos é de desculpas para que deixemos de enxergar o peso que o sistema Kapitalista coloca em cima de nós, não precisamos deixar de enxergar nossas correntes, não precisamos deixar de enxergar nossos patrões, nossos chefes, nossos senhores que de nós extraem suas riquezas. 
No momento em que ninguém mais conseguir enxergar o real, daí sim, creio que conseguiremos falar de crise do cuidado.


Marília Gonçalves

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