Mesmo que não tenha acompanhado o início deste debate, creio que este texto nos coloca elementos fundamentais para o avanço da discussão da esquerda no Brasil. O reconhecimento de que pessoas são pessoas, atitudes pessoais não modificam o todo por si só. Precisamos de clareza política, que na minha visão significa enxergar que o problema não são as pessoas ou os cargos que elas ocupam, mas sim o sistema em que vivemos, o sistema Kapitalista, e que nele somos fojados. Enxergar é o primeiro passo pra transformação social. Mas não podemos continuar cometendo as gafes de outrora onde as leituras erronias sobre nossa história (Brasil) nos levaram a desunião dos poucos socialistas, e por muitas vezes acordos com o Imperialismo Norte-americano, e por outros caminhos que poderíamos estudar melhor. E pra concluir a idéia, lhes deixo este texto, que como um bom texto, questiona muito mais que responde. Boa leitura!!
Artigo no qual Antonio Lisboa, rebate o artigo “Nossos comunistas são menos inteligentes que os dos outros” de Fabio Olmos publicado aqui no blog. Artigos que rendem bons debates…
por Antonio Lisboa
Esta é a primeira vez que comento um artigo teu, pois, como gestor de um parque nacional na Amazônia, raramente me sobra tempo para ler “OEco”… mas não posso deixar de contribuir neste “debate” que vc está propondo.
O seu perfil diz que vc “é biólogo e doutor em zoologia” e “tem um pendor pela ornitologia e gosto pela relação entre ecologia, economia e antropologia”. Lendo o que vc escreveu, fico curioso em saber qual a sua formação em “antropologia” para poder discursar sobre sua relação com a ecologia.
Ser polêmico é um excelente instrumento para chamarmos a atenção para um debate necessário, sobretudo, num mundo governado por uma mídia alienante, que difunde um pensamento único (globalitário e mediocrizante), num país marcado pela total falta de cultura de debate de idéias (brasileiros preferem discutir as pessoas ao invés de discutir idéias!) e interesse intelectual.
Mas, é preciso entender que a polêmica, muitas vezes, pode resultar não apenas em maior audiência, mas também, numa excelente oportunidade de dizermos algumas verdades (como alguém disse há muito “entaladas na garganta”) e de se fazer cair algumas máscaras empoeiradas.
Isso foi o que ocorreu, por exemplo, quando o Tadeu Schmidt da Globo fez aquele editorial nefasto contra o técnico da seleção brasileira, e que acabou resultando na maior chuva de críticas que a Globo já recebeu até hoje, desmascarando uma emissora que sempre esteve a serviço da elite “global”.
Ler o teu artigo e ver a tua coragem em atacar, tão gratuitamente, duas correntes ideológicas associadas à esquerda brasileira e que, você deve saber, certamente têm muitos simpatizantes entre os seus leitores e do O-Eco, me fez lembrar aquele infeliz episódio, me despertando sentimentos parecidos…
Em seu artigo, vc afirma que “o nacionalismo já foi famosamente descrito como o último recurso dos idiotas”, também “batizado por seus mentores de Escola da Anta”, e que dos nacionalistas “nenhum merece respeito”… e destaca que “o nacionalismo justificou políticas desastrosas no Brasil, da destruição das ferrovias em prol das rodovias por um idiota”… Qual “idiota”? JK? “Idiota”..?
Bem… vamos aos fatos…
Primeiramente, nunca houve um governo verdadeiramente NACIONALISTA no Brasil.
Qdo Getúlio tentou, ao nacionalizar bancos e empresas estadunidenses, foi “suicidado”… A destruição das ferrovias pode ter sido tudo, menos “nacionalista”, pois serviu justamente aos interesses internacionais da indústria automobilística e petrolífera. Desde quando ser “nacionalista” no Brasil pode significar acabar com ferrovias? Que foi um erro do Jk, sem dúvidas foi, mas daí a dizer que ele era “nacionalista” e, pior ainda, um “idiota”, me parece muito menos inteligente ainda…
Primeiramente, nunca houve um governo verdadeiramente NACIONALISTA no Brasil.
Qdo Getúlio tentou, ao nacionalizar bancos e empresas estadunidenses, foi “suicidado”… A destruição das ferrovias pode ter sido tudo, menos “nacionalista”, pois serviu justamente aos interesses internacionais da indústria automobilística e petrolífera. Desde quando ser “nacionalista” no Brasil pode significar acabar com ferrovias? Que foi um erro do Jk, sem dúvidas foi, mas daí a dizer que ele era “nacionalista” e, pior ainda, um “idiota”, me parece muito menos inteligente ainda…
O nacionalismo, caro Fábio, NUNCA foi política de estado no Brasil, NUNCA! Qdo João Goulart tentou algo nesse sentido foi derrubado por um golpe de estado financiado pelo EUA e coordenado pela CIA. O que sempre houve nesses 500 anos de Brasil sempre foi um feudalismo escravista, substituído por um capitalismo selvagem no século XX e mais recentemente por um neoliberalismo destrutivo, agora com uma embalagem de social democracia.
Ao contrário, mesmo a esquerda brasileira, durante décadas, ignorou o nacionalismo em nome de um ”internacional-socialismo” marxista. Diferente do que vc afirma, o verdadeiro nacionalismo brasileiro é, inclusive, filho de estrangeiros, como o inestimável escritor austríaco STEFAN ZWEIG, conhecido por seu humanismo pacifista, autor do livro e da expressão “Brasil: País do Futuro”, cujo amor pelo Brasil era tanto que veio mesmo a morar no Brasil, em Petrópolis, onde acabou suicidando depois de assistir o carnaval…
Diferente do que vc sugere, o verdadeiro nacionalismo brasileiro não tem nada a ver com a bancada ruralista (sempre a serviço dos interesses estrangeiros da indústria de fertilizantes, agrotóxicos, transgênicos e tratores: Monsanto, Bayer etc.). Não, meu caro, o verdadeiro nacionalismo brasileiro é filho do sonho dos artistas, que tanto se opuseram aos radicalismos de direita e de esquerda, como no movimento TROPICALISTA, nos anos 60/70. E, diferente do que vc sugere, nunca foi pensado por “idiotas”, mas por gênios como David Byrne (que, em 1989, preferiu abrir mão de seu famoso grupo Talking Heads, para fazer e divulgar a música brasileira para o mundo). Que andam de bicicleta…
Entendo suas críticas ao dês-serviço que o Aldo Rebelo está promovendo para o futuro do Brasil com a destruição do Código Florestal, mas suas críticas ao nacionalismo e às ideologias de esquerda agridem a inteligência dos seus leitores, pois destorcem completamente a história política do país, ao tentar culpar justamente duas correntes ideológicas que NUNCA tiveram uma única chance de poder neste país. Se há um “culpado” este chama CAPITALISMO!
Quem está a destruir, roubar, poluir e aniquilar a vida e a liberdade no planeta é um sistema chamado CAPITALISMO. Este é quem vc deveria criticar.
“Comunismo” no Brasil nunca houve, a não ser durante os milhares de anos de história pré-colombiana, qdo imperava um comunismo primitivo indígena.
Aldo Rebelo pode ser tudo, menos “comunista”, é sim um desenvolvimentista a serviço de um projeto burguês neoliberal comandado pelo agrobusiness.
E qto a estarmos atentos na hora de votar, o que vc sugere? Onde vc quer chegar com suas críticas às ideologias de esquerda? Que votemos no Serra? Esse é o modelo democrático e moderno que vc pensa pro Brasil? Na Marina Silva, depois de seu enorme fracasso à frente do MMA? Seria nos candidatos dos partidos que votaram contra a proposta do Aldo (PT, PSOL e PV)?
Trabalho há anos em um parque nacional na Amazônia, e a imensa maioria dos estrangeiros que passaram por aqui dizem que o interesse internacional na Amazônia não é teoria da conspiração, não… eles sabem disso melhor que nós. Acredito na conservação, mas essa somente é possível se envolvermos as pessoas, as comunidades, se houver geração de renda, difusão de conhecimentos e tecnologia… coisas que o capitalismo não nos oferece. “Preservação” não se faz com passarinhos, mas com seres humanos.
Diferente do q vc pensa, ser NACIONALISTA no Brasil é acreditar na diversidade da vida, é construir floresta, é educar o povo, dividir a renda, a terra e a informação. É construir uma NAÇÃO libertária, tropical e democrática. “Idiota” (usando o mesmo termo que vc utilizou) é quem não enxerga isso.
Saudações verdes…
e amarelas!
e amarelas!
Fonte: O Eco
Esse tema é de extrema relevância.
ResponderExcluirNa minha opnião, sempre pragmática, acredito que vivemos hoje uma crise de valores, não uma crise de sistema social ou "política" como muitos apregoam.
Independente do sistema atual, a corrupção e o desprezo pelas pessoas estão nos destruindo. Egoísmo e ganância. Ter, é hoje, mais importante do que ser.