Quem der uma busca na internet esses dias pelo nome de Daniel Domscheit-Berg irá certamente encontrar milhares de registros. Entre estes, observações de que o alemão deixou em tom de briga o portal WikiLeaks. Domscheit-Berg prefere evitar esse termo e optar por um mais ameno, falando de "diferenças" entre ele e Julian Assange, o fundador do WikiLeaks.
Apesar de toda crítica ao culto da pessoa de Assange, o ex-sócio Domscheit-Berg reconhece o mérito do portal criado pelo australiano. "Trata-se de um debate acerca do que pode ser mantido em sigilo e o que não pode. O que acontece, de fato, nos bastidores, quando as cortinas são realmente abertas? O WikiLeaks levou esse debate a todo o mundo. Hoje, ele está na boca de muitos que antes nunca se interessaram pelo assunto. E essas pessoas vão ser sempre confrontadas com o tema", diz Domscheit-Berg.
No entanto, o que mais parece incomodar o alemão é a ideia de monopólio que se esconde por trás do WikiLeaks. Com a criação de uma plataforma própria, intitulada Openleaks, o berlinense quer garantir mais quantidade e qualidade às revelações do portal, sem, contudo, se distanciar da ideia original.
Envolvimento de terceiros
"Considero correta a premissa de se publicar o máximo possível, com o mínimo de filtros possível. No entanto, principalmente quando se trata de informações polêmicas, surge o problema e tem-se que pensar a respeito. Acreditamos que, nesse processo, seria melhor envolver mais pessoas com experiência", aponta Domscheit-Berg.
Por trás de comentários como esse esconde-se uma crítica velada a Julian Assange, criador do WikiLeaks. Os documentos secretos, oriundos dos EUA e de outros países, só tiveram a repercussão que tiveram graças à cooperação exclusiva com órgãos influentes de mídia, como o semanário alemão Der Spiegel, e o britânico The Observer.
Outros modelos
Domscheit-Berg defende outro modelo de cooperação. Segundo ele, quem acredita que informações relevantes e polêmicas devam ser publicadas, também teria que resolver quem irá assumir essa função. Isso pode se dar através das mídias clássicas, mas também de ONGs, por exemplo.
"Ou seja, através do Greenpeace ou do Foodwatch, por exemplo. Ou por todos aqueles que se dedicam ao controle independente da indústria. Certamente há também entre os sindicatos uma demanda neste sentido. Tentamos, com esse projeto, criar um fundamento para que, no futuro, haja cada vez mais páginas deste gênero", afirma Domscheit-Berg.
Caixa de correio anônima
Uma das contribuições importantes para o novo portal coordenado pelo alemão é a chamada caixa de correio anônima, que deverá ficar disponível a todos os que queiram publicar material de relevância, sem, contudo, estarem sujeitos a riscos de serem desmascarados. Até hoje, os informantes anônimos usavam a tática de enviar material diretamente à redação, pelo correio tradicional, ou de algum de se encontrarem pessoalmente com um jornalista para que fossem feitas as revelações.
"Tudo isso demanda um tempo inicial relativamente longo. Você precisa ter confiança em alguém com quem vai conversar. Você precisa talvez ficar refletindo uma noite inteira pensando se no dia seguinte vai ao correio enviar alguma coisa. E você tem uma noite inteira para resolver de maneira diferente e perder a coragem. Pela internet, surgem outras possibilidades completamente diferentes", analisa Domscheit-Berg.
Financiado através de doações
O Openleaks não deverá funcionar de forma inteiramente gratuita, mas seu criador acredita já ter encontrado uma forma de fazer com que o projeto se autofinancie. "Haverá a possibilidade de financiar o portal através de doações. E esperamos que a opinião pública, a partir da experiência atual com a evolução do WikiLeaks, entenda por que é tão importante descentralizar um projeto como esse e também apoiá-lo. O modelo ideal imaginado por nós é o chamado modelo de community. Estimamos no momento custos mensais de aproximadamente 400 euros. Uma soma completamente irrisória para qualquer organização que tem suas finanças razoavelmente em ordem", avalia Domscheit-Berg.
No mundo virtual, as opiniões sobre o Openleaks são divergentes, divididas entre defensores árduos e críticos céticos do novo portal. Estes últimos acusam Daniel Domscheit-Berg de estar sendo ingênuo ao não perceber que informações sempre foram uma espécie de mercadoria, para a qual é possível encontrar compradores.
No fim, continuam os céticos, as informações acabarão sendo encaminhadas a quem pagar mais. E há quem acuse o dissidente do WikiLeaks de fazer o mesmo que Julian Assange: achar-se mais importante do que a atividade que pratica.
Autor: Marcel Fürstenau (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
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