Por Cristiane Passos* e Paulo Victor Melo**
Os movimentos sociais populares no Brasil que lutam pela reforma agrária e por justiça social, historicamente, vêm sendo criminalizados, seja pelo judiciário, pela força policial, por grupos conservadores da política nacional ou pelos meios de comunicação comercial.
No campo midiático, essa criminalização se dá tanto pela invisibilidade ou mal-trato desses grupos sociais na programação das emissoras de rádio e TV, quanto nas páginas da mídia impressa. Temos convicção de que esta criminalização não se dá por acaso. Pelo contrário, é orquestrada e executada, pois, em grande parte, os proprietários das concessões públicas de comunicação são os mesmos “donos” dos latifúndios que há em nosso país.
Por isso, a luta pela Reforma Agrária no campo é também a luta pela Reforma Agrária do Ar: a democratização dos meios de comunicação.
Nesse sentido, foi criada, em março desse ano, a Rede de Comunicadores/as pela Reforma Agrária, congregando jornalistas, comunicadores/as populares e militantes sociais que atuam em defesa da Reforma Agrária e dos movimentos sociais. A Rede se organizou a partir da criação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que, claramente, pretendia criminalizar o MST – Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra. O papel da Rede, naquele momento, era de monitoramento dos trabalhos da CPMI e contraponto ao discurso da mídia hegemônica.
De forma positiva, a Rede de Comunicadores/as pela Reforma Agrária foi ganhando capilaridade, com a formação de diversos núcleos nos estados, alguns chegando a promover lançamentos estaduais. Paralelo a esse processo, nacionalmente, conseguiu-se acompanhar a CPMI e pautar, principalmente através do blog (www.reformaagraria.blog.br), que as grandes empresas do agronegócio é que fazem uso indevido de recursos públicos, e não os movimentos sociais – como pretendia a bancada ruralista, encabeçada por Kátia Abreu (DEM-TO) e Demóstenes Torres (DEM-GO).
Após o término dos trabalhos da CPMI, que ainda não foi encerrada formalmente, a Rede também enfrentou um momento de paralisação. Entendemos a conjuntura que levou a essa paralisação, porém a Rede poderia ter cumprido um papel de pautar a necessidade de Reforma Agrária em dois momentos fundamentais de 2010: o Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra e as Eleições.
Agora, o momento é de continuar avançando. Assim como a Reforma Agrária, compreendemos que a Rede de Comunicadores/as é necessária, afinal o ano de 2011 será de grandes desafios e lutas para os movimentos sociais do campo e da cidade.
Além disso, com as demandas diárias cada vez maiores para os/as comunicadores/as ligados aos movimentos e organizações sociais, necessitamos de uma maior articulação de pessoas que possam contribuir com a Rede, como estudantes de comunicação, organizações de comunicação comunitária e/ou alternativa, entidades estudantis, blogueiros progressistas e pensadores/as das mais diversas áreas.
Acreditamos que no próximo período, a Rede pode cumprir três papéis essenciais:
*Colocar a Reforma Agrária na pauta do governo federal e da mídia comercial;
*Se constituir como um espaço de comunicação contra-hegemônica, dando visibilidade às reivindicações dos movimentos sociais; e
*Atuar como um espaço de articulação em defesa do direito humano à comunicação, envolvendo uma diversidade de atores da comunicação popular.
Para tal, é urgente a reorganização da Rede. Nesse sentido, propomos um calendário de reuniões e ações para o início de 2011:
- fevereiro / março – reuniões da rede nos estados onde ela está articulada, e naqueles onde há o interesse de articulá-la;
- fevereiro – informe durante a Plenária Nacional da Via Campesina.
- abril – plenárias da Rede nos estados.
Esperamos que tais sugestões possam enriquecer o debate e um necessário momento de avaliação da rede. Estamos à disposição para contribuir no processo e esperamos que consigamos, para o próximo ano, dar um novo gás à rede e às suas atividades nessa nova conjuntura política que se apresenta.
Abraços comp@s,
* Jornalista, Comissão Pastoral da Terra – CPT Nacional
** Jornalista, integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
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