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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Indústria do veneno financia produção do agronegócio

Do Valor Econômico
As indústrias de defensivos continuam aumentando sua participação no financiamento do agronegócio utilizando um sistema conhecido como "barter". As empresas ocuparam uma lacuna deixada pelas tradings a partir da crise de 2008 diante da queda na disponibilidade de crédito e devem atrelar cerca de 30% de suas vendas no sistema de triangulação de produtos nos próximos cinco anos.
Projeções do segmento indicam que as vendas de defensivos no país passará de US$ 6,6 bilhões, em 2009, para US$ 8,5 bilhões em 2015. Com isso, US$ 2,5 bilhões serão obtidos por meio do sistema de troca.
Na prática, o "barter" consiste na antecipação da venda de defensivos para os agricultores, que emitem uma Cédula de Produto Rural (CPR), comprometendo-se a entregar determinado volume da produção, correspondente ao valor do insumo recebido (preço de referência).
A entrega física da produção após a colheita é feita para uma terceira parte - no caso, uma trading -, que faz o pagamento do insumo entregue ao produtor diretamente à empresa de defensivo. Para não correr o risco de oscilações de preços, a empresa e a trading dividem a responsabilidade de travar os preços em bolsa, seja no Brasil ou nos Estados Unidos.
Tradicionalmente utilizado entre produtores de grãos do Centro-Oeste e as indústrias, o sistema de troca está sendo estruturado para englobar também a produção de cana, com negócios envolvendo açúcar e etanol. "Em 2004, iniciamos as operações de "barter" em café. Agora, para a safra 2010/11 estudamos entrar no mercado de açúcar e álcool, fazendo negociações diretamente com as usinas", diz José Munhoz Felippe, diretor de vendas agro Brasil da alemã Basf. Nos próximos dois anos, 30% do faturamento da empresa no Brasil será por meio de trocas.
As americanas FMC e Monsanto, quarta e quinta colocadas no ranking brasileiro de defensivos, respectivamente, faturaram US$ 100 milhões cada uma na última safra com vendas via "barter". No ciclo 2010/11, a FMC deve elevar em 20% os negócios por meio de trocas, fazendo com que o sistema represente 25% do seu faturamento. "Faremos "barter" de soja pela primeira vez na próxima safra e acreditamos em negócios de US$ 30 milhões. Para o ciclo 2013/14, só a soja movimentará US$ 100 milhões", diz Gilberto Mattos Antoniazzi, diretor financeiro da FMC.
No caso da Monsanto, as apostas são no milho. Conforme Eduardo Bezerra, diretor financeiro da multinacional, a expectativa da empresa é que parte da produção do Sul migre para o Centro-Oeste nos próximos cinco anos, região que tem mais tradição nas trocas.
"Esse é um modelo que todos ganham. O produtor porque sabe quanto vai pagar e foge do risco das oscilações de preço; a indústria, porque consegue reduzir seu grau de inadimplência; e a trading porque consegue concentrar em uma única compra a produção equivalente a vários produtores", afirma Gerhard Bohne, diretor de operações de negócios Brasil da Bayer CropScience, segunda no ranking brasileiro de defensivos.
A multinacional alemã começou a operar com "barter" há cinco anos com café. Hoje, 10% de suas vendas são por meio da modalidade, englobando ainda soja, algodão e milho e iniciativas com arroz, trigo e cana-de-açúcar. Segundo Bohne, o objetivo é ampliar a participação do sistema nas vendas da empresa, oferecendo diferenciações. Uma das estratégias foi criar a possibilidade de o produtor renovar o preço de referência da operação, caso os preços subam.
Líder de mercado, a suíça Syngenta tem no "barter" 30% da comercialização de seus produtos e a expectativa de crescer. Segundo Dirceu Ferreira Junior, gerente nacional de "barter", a participação das vendas mediante troca está relacionada ao grau de capitalização do agricultor. "Em anos de preços baixos a procura é maior. Quando o produtor está mais capitalizado a tendência é por compras à vista".
Do site do MST

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