O PROCESSO DE PASTEURIZAÇÃO DO GAÚCHO

Não por acaso, foi criada em 2007, no Congresso Nacional, a "Comissão Mista Especial De Mudanças Climáticas" com o objetivo de acompanhar, monitorar e fiscalizar as ações referentes às mudanças do clima do Brasil.

As tragédias decorrentes de enchentes, vendavais, tsunamis, a ceifarem vidas humanas e habitações; as longas estiagens a ceifarem sonhos de germinação e colheita: os políticos de Brasília, eleitos, legitimamente, pelo povo, não ficaram alheios a esse quadro dantesco que se transpõe para os meios de comunicação e contagia os ilesos por meio do choro dos atingidos.

Na televisão e no rádio, os meteorologistas ganham notoriedade como qualificados especialistas do que era até então insondável pela maioria da humanidade e motivo de sondagens supersticiosas e dos sinais da natureza, como dor nos calos e em fraturas ósseas, burros zurrando em alto som, formigas apressadas em seus longos trilhos.

"Pra me aquecer, mate quente;

Pra me esfriar, geada fria."

Esses versos de Luiz Coronel, no poema Gaudêncio Sete Luas, melodiado por Marco Aurélio Vasconcelos, destacam a sinestesia provocada pelo clima subtropical do Rio Grande do Sul, e que, segundo Vítor Ramil, em seu ensaio poético-musical "A Estética Do Frio", forja um estilo de personalidade no elemento "gaúcho".

Com tais mudanças, chega-se ao cúmulo de se misturar sensações térmicas de verão e inverno num só dia. O gaúcho sobrevive, espantado a essas esquizofrenias da natureza que parece já estar desnaturada pelas ações inconsequentes dos seres humanos.

À sombra de uma figueira ou de um cinamomo, o gaúcho toma seu mate quente e experimenta arroubos nos termômetros. Parece passar por uma pasteurização, método criado pelo químico francês Louis Pasteur, e que consiste, basicamente, em se aquecer o alimento à determinada temperatura e por determinado tempo, de forma a eliminar os microorganismos existentes nos alimentos.

A esperança é que, diante de tantos aparentes desequilíbrios, as populações tidas como "racionais" se sensibilizem e, assim, revisem suas práticas antiecológicas. Por fim, que o gaúcho, menos mitificado e mais real, após cruento processo de pasteurização, reste mais forte, temperado para boas lutas onde os vencedores serão todos os habitantes do Planeta Terra.