O lixo plástico provoca a morte a mais de um milhão de aves marinhas e de 100 mil mamíferos marinhos por ano.
Há 12 anos foi descoberto um “mar de plástico”: onde as águas do Oceano Pacífico giram vagarosamente sobre si mesmas, gerou-se uma sopa que poderá conter 100 milhões de toneladas de minúsculos pedaços de plástico em suspensão na coluna de água. O fenómeno ainda é relativamente desconhecido e é de difícil visualização e delimitação. Entretanto, no Atlântico foi descoberta uma situação análoga.
O lixo plástico provoca a morte a mais de um milhão de aves marinhas e de 100 mil mamíferos marinhos por ano. Mas não é só a vida selvagem e a biodiversidade que estão em causa. Como os polímeros se vão tornando cada vez mais pequenos, entram na cadeia alimentar animal e humana, podendo introduzir aí e na água vários químicos tóxicos. Estes plásticos podem ainda servir de flutuadores para espécies invasoras e de esponja concentrante de poluentes orgânicos e disruptores hormonais.
A “sopa de plástico” está aí e coloca em risco ecossistemas e saúde pública. Impõem-se várias perguntas. Primeiro, de onde vem tanto plástico e porquê? E, em segundo, quem vai limpar tudo isto, com que tecnologia e quem paga a factura?
O plástico é ubíquo nas nossas vidas. Podemo-nos esforçar mas é difícil escapar-lhe. Embalagem e sobre-embalagem, seja para chamar a atenção, para conferir uma mais-valia ao produto sob a forma de uma qualquer abertura fácil ou para garantir que compramos obrigatoriamente várias unidades, o plástico é omnipresente. Por outro lado, o produto quer-se descartável já que só assim há a garantia de nova moda, de nova compra. Tornamo-nos Príncipes do Descartável e o plástico é a nossa armadura. Assim se garante que a sobreprodução se escoa através do consumo do supérfluo, sem que tenhamos grande escolha ou controlo sobre o processo. Neste ciclo frenético de consumo e produção esbanja-se energia, matéria e recursos naturais e gera-se uma quantidade imensurável de resíduos.
Se todo este lixo garante o lucro de alguns, não garante o acesso de todos aos produtos, nem garante o retorno social ou económico. Não existe tecnologia ou recursos financeiros para limpar a “sopa de plástico”. Pior, ninguém é verdadeiramente responsável pelo problema e pela sua resolução. Se Copenhaga ditou um grande nada, é fácil imaginar como todas as nações se descartarão a responder perante lixo invisível em águas internacionais. Para mais, nenhuma organização internacional tem meios ou autoridade para debelar a situação. Também aqui nos próximos anos haverá uma curiosa dança diplomática e de direito internacional. Até lá, a sopa vai enchendo.
Entretanto, decorre a Expedição Plastiki: um barco feito de 12.500 garrafas de plástico percorre o Pacífico para alertar para a poluição sistemática dos oceanos e para a sobre-pesca. Para os activistas da expedição, o facto de, em 8 mil milhas, nenhuma garrafa se ter deformado ou destruído é bem ilustrativo de que “toda e qualquer garrafa de plástico que foi feita ainda existe”...
do esquerda.net
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