Polêmica da berinjela transgênica é reacesa na Índia: relatório de seis academias de ciência do país afirmando a segurança do produto contém partes plagiadas de material de divulgação da indústria de biotecnologia
O objetivo do relatório assinado pelas seis principais academias de ciência da Índia era derrubar a moratória imposta em fevereiro ao cultivo da berinjela transgênica Bt, tóxica a insetos (o produto seria o primeiro cultivo transgênico destinado à alimentação humana a ser plantado no país).
Mas o tiro saiu pela culatra quando organizações da sociedade civil apontaram que partes do documento haviam sido plagiadas verbatim de um artigo pró-transgênicos publicado anteriormente no informativo Biotech News, de um grupo de lobby financiado pelas empresas de biotecnologia. O artigo era assinado por Ananda Kumar, um conhecido defensor dos transgênicos na Índia, diretor do Centro Nacional de Biotecnologia de Plantas e membro do Comitê de Aprovação de Engenharia Genética (GEAC, na sigla em inglês).
Em outubro de 2009, o GEAC decidiu pela liberação comercial da berinjela Bt, mas a decisão foi fortemente atacada por organizações da sociedade civil. A polêmica provocada foi tanta que em fevereiro de 2010 o Ministro do Meio Ambiente Jairam Ramesh decidiu impor uma moratória ao produto até que uma avaliação interacadêmica comprovasse a sua segurança para a saúde humana e para o meio ambiente.
O relatório das seis academias foi divulgado em 24 de setembro, mas no dia seguinte a Coalizão pela Índia Livre de Transgênicos apontou o problema do plágio.
Esta semana o Ministro Ramesh anunciou que rejeita o relatório das academias. Para o ministro, o mais frustrante é que o documento não acrescentou nada novo além de sugestões e informações distorcidas. “Minha ideia ao remeter para as academias a avaliação sobre as lavouras transgênicas era a de obter uma visão mais abrangente da comunidade científica, e não apenas a visão de Ananda Kumar, que eu já conhecia mesmo antes de decretar a moratória à berinjela Bt”, declarou Ramesh ao jornal Times of India.
Devinder Sharma, o presidente do Fórum sobre Biotecnologia e Segurança Alimentar da Índia, classificou o relatório inteiro como um “exercício de corta e cola”. Para ele, o caso indica claramente o quão vazias e sem utilidade são as academias de ciência. “Onde está o rigor científico que é esperado de tão ‘ilustres’ organizações?”, indaga.
Agora cientistas indianos temem pela reputação científica internacional do país.
Este semana, a Academia Nacional de Ciências Médicas do país (NAMS, em inglês) reuniu seu conselho e decidiu que não mais endossa o documento -- já assinado pela entidade. Fontes da Academia disseram que o relatório foi finalizado antes que tivesse terminado um processo interno de consulta, e que várias opiniões de seus membros não foram incorporadas. A entidade sugeriu a necessidade de um novo documento, elaborado com rigor científico e que não simplesmente reitere a versão atual do relatório apenas incluindo as referências das informações apresentadas. Segundo fontes da NAMS, o presidente do conselho escreveu ainda uma carta às outras academias observando as controvérsias e as partes plagiadas.
Mas, segundo afirmou ao jornal Times of India uma importante autoridade do país neste tema, o plágio desacreditou as academias e mesmo com um novo relatório será difícil convencer os políticos e o público em geral que o que elas afirmam se refere a informação científica autêntica.
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