Troca de emails revela influência de associação de empresas para inlcuir no texto promoção dos transgênicos como a forma mais efetiva de se garantir o abastecimento alimentar
Em protesto, dois integrantes desligaram-se da Agência de Alimentos do Reino Unido
A pressão pela inclusão de argumentos em defesa escancarada dos transgênicos foi revelada após o desligamento de dois conselheiros da Food Standards Agency (FSA), que criticaram a estreita relação entre o órgão do governo inglês e a entidade de lobby Agricultural Biotechnology Council (ABC), que inclui entre seus associados Monsanto, Bayer e outras.
Emails trocados entre as duas entidades mostram que a ABC inseriu frases chaves na versão final do relatório reforçando a defesa dos transgênicos. O relatório “FSA trabalha em mudanças no mercado e na regulação de transgênicos” avalia como os produtos transgênicos estão entrando no Reino Unido por meio das rações animais, já que lá o cultivo das sementes modificadas é proibido. O relatório reconhece que o preço dos alimentos poderia subir caso os transgênicos continuem vetados.
A troca de emails ocorreu entre 2008 e agosto de 2009, data de publicação do relatório. Nesse período a FSA tinha à frente Clair Baynton, ex-funcionário da Syngenta.
Em 19 de novembro de 2008, Baynton enviou ao ABC um versão preliminar do relatório dizendo que “Estou satisfeito em poder discutir … caso possa ajudar”. Em resposta, o Conselho sugeriu uma série de mudanças enfatizando como os produtos transgênicos estão desempenhando um papel cada vez mais importante na agricultura mundial e ajudando a baratear os alimentos. Algumas das sugestões foram aceitas pela FSA, outras não.
Uma das mudanças aceitas reconhece o argumento das empresas de que a comida transgênica é inevitável na União Europeia já que ela está por toda a parte: “comerciantes estão preocupados de não mais poder manter sua condição de livre de transgênicos uma vez que os produtores cada vez mais adotam a tecnologia dos transgênicos ao redor do mundo”.
Helen Wallace e Brian Wynne, do Genewatch UK, entregaram seus postos na Agência afirmando que esta adotara atitude dogmática na defesa dos transgênicos.
Um porta voz da FSA informou que a Agência organizou uma série de debates com diferentes atores durante o processo de elaboração relatório e que essas consultas não envolveram a indústria. Contudo, buscando um relatório equilibrado, a FSA também consultou o ABC. Helen Wallace critica o procedimento, alegando que todos os debates foram transparentes e as mudanças foram todas feitas na presença de todos. Segundo ela, as alterações a pedido das empresas ocorreram nos bastidores. “O relatório não representa a vasta maioria dos produtores que terão que pagar caro caso suas sementes ou cultivos sejam contaminados”.
Com informações de:
Jamie Doward | The Observer, 6 de junho de 2010.
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