Jornal de NotíciasJOÃO ANTUNES Camilo Guevara um dos filhos do mítico guerrilheiro Che, El Comandante, falou ao JN sobre o pai, a situação política internacional e o impacto da nova Administração norte-americana, de Barack Obama, sobre Cuba. O país onde ainda hoje vive, do qual foi ministro das Pescas e que muito defende.
O mítico guerrilheiro comunista Che Guevara é objecto de novo documentário. Com imagens inéditas, desde filmes de família da sua infância a arquivos fotográficos e fílmicos nunca antes divulgados por parte das autoridades da Bolívia, país onde o guerrilheiro foi abatido, o documento foi apresentado nos Emiratos Árabes Unidos. Nessa mostra esteve Camilo Guevara, terceiro dos cinco filhos de Che, que tinha apenas cinco anos quando o pai morreu. Restam-lhe imagens difusas, filtradas pelas memórias da mãe e das irmãs. Ao JN, falou sobre o pai e a situação política internacional, nomeadamente em Cuba, país onde ainda hoje vive e já exerceu vários cargos públicos, como o de ministro das Pescas. Como é viver com o peso de ser o filho do Che? Para mim não é um peso. Tenho muito orgulho em ser filho dele. Mas é verdade que há pessoas que podem confundir certas coisas e acham que por ser filho tenho de ser exactamente essa pessoa. O mais importante é esse orgulho dele ter sido o meu pai, e o grande carinho e admiração que sinto por ele. Quando viaja pelo mundo e vê sobretudo jovens com t-shirts com a imagem de Che Guevara, o que lhe passa pela cabeça? Tenho a esperança de que pelo menos o conheçam. Sei que por vezes não é assim. Às vezes é por snobismo ou por ser moda. Creio que de todas as formas, o facto de levarmos algo com a imagem do Che nos identifica logo com a figura. E mais tarde ou mais cedo talvez se acabe por conhecer melhor essa pessoa. Isso pode ser positivo. E quais são os aspectos negativos? O que me desagrada é a comercialização vã da figura de Che Guevara, tentando, na minha opinião, separar a História da própria imagem. Convertendo-o num mito frio, sem valor. Mas é difícil consegui-lo. Um dia, essas pessoas vão acabar por ir à procura de um livro ou algo que os leve a saber quem foi realmente Che Guevara. O Che foi rebelde, revolucionário, há quarenta ou cinquenta anos. O que é ser revolucionário hoje? O Che é, ainda hoje, rebelde e revolucionário. Na actualidade, é necessário mais do que nunca criar uma alternativa ao Mundo. A ganância é o estímulo fundamental do sistema capitalista. Já está até a destruir a nossa espécie. Há que combater o capitalismo mais do que nunca. Com o consumo desmedido por parte de 20% da população mundial, estamos a chegar a um ponto sem retorno, que pode dar origem a um caos biológico. Como é que essa mudança poderá ser feita? Há muitos caminhos, muitas formas. Mas a essência é a mesma. Tem de se criar um sistema alternativo. Dê-se-lhe o nome que se quiser. Se quiserem chamar comunismo, chamem. Se quiserem chamar socialismo, chamem. Se quiserem chamar harmonia, que seja harmonia. Mas tem de ser um sistema diferente do que existe na actualidade. E há que fazê-lo, é tão simples como isso. Não há outra alternativa. Mas acha que é possível fazer essa mudança, no mundo de hoje? É possível em qualquer parte do mundo. Veja este país, é completamente fictício. Estas construções que vemos aqui, que custo têm? Nem estou a falar no dinheiro. Que custo ambiental, ecológico, têm? Não quero dizer que devessem voltar para o deserto e andar de camelo. Mas o desenvolvimento devia ter sido racional. Mas não, está a criar um desequilíbrio total, é o que está a acontecer em todo o Mundo. É necessária uma mudança de mentalidades, não está de acordo? É verdade, porque o maior problema é que os outros 80% querem ser como os 20% que têm toda a riqueza. Mas é impossível. Para haver esses 20%, é preciso que os outros 80% sejam explorados e tenham péssimas condições de vida. É muito difícil manter um sistema assim indefinidamente. Espero que tenhamos a maturidade suficiente para percebermos que não podemos continuar nesse caminho. Nesse contexto, que apreciação faz da realidade cubana? O socialismo, como o vemos nós, os cubanos, é uma experiência particular de cada povo. Tem a ver com a cultura, com a idiossincrasia, com a experiência de cada povo. Para se criar essa alternativa. Foi o que tentámos fazer. A 90 milhas dos Estados Unidos. Eles já nos podiam ter invadido. Se não o fizeram é por alguma razão. Mas pensa que essa tentativa de criar um sistema alternativo foi conseguida? Houve muitas coisas positivas que se alcançaram, em termos de desenvolvimento. É indiscutível, inquestionável. E servem de experiência para novos passos, novas acções. O caminho é longo. Mas é o caminho que o Che pretendia. O futuro não é um dogma. Há que encontrar o caminho e ir caminhando através dessas experiências. O novo filme sobre o Che não torna claro se houve ou não algum confronto ideológico entre ele e Fidel Castro... O que o Che queria era proceder a um exercício crítico da nossa experiência. O que se cumpria e o que não se cumpria. Esse exercício é fundamental, para continuar o caminho na direcção que se pretendia. Os EUA afirmaram que talvez daqui a dois ou três anos acabem com o bloqueio. Acredita que isso vai ser possível? O bloqueio é da Administração norte-americana, não é do povo norte-americano. A Administração dos EUA representa os interesses de um império. Cuba é a antítese desse império. É um exemplo de resistência e de luta. O bloqueio foi criado para evitar o desenvolvimento de Cuba. Mas tudo é possível, quem sabe? Se o bloqueio for levantado, o que poderá mudar em Cuba? As relações comerciais, pelo menos com os Estados Unidos. Poderão chegar medicamentos dos EUA. Poderá haver alimentos, exportados de forma normal para Cuba. Seria um passo sério e sólido para a paz universal. Um Mundo sem guerras, sem agressões, sem bloqueios, seria um Mundo melhor. Mudou alguma coisa com a Administração de Barack Obama, o actual presidente dos EUA? Com Barack Obama na Presidência, voltou-se ao momento anterior a George W. Bush. Mas continuamos bloqueados, continuamos com a base americana de Guantánamo (base naval dos EUA em Cuba, tornada célebre por encarcerar os suspeitos de terrorismo sem serem objecto de acusação formal). E isso obriga-nos a defender-nos. É tão simples como isso. A nossa revolução tem cinquenta anos. Temos de resistir e de sobreviver. E é o que temos feito. Mesmo sem a União Soviética e o campo socialista. Continuamos a existir, porque o povo apoia a nossa revolução, senão seria impossível. Recentemente, foram libertados mais alguns prisioneiros de opinião em Cuba... Os Estados Unidos sempre tentaram criar, no interior de Cuba, uma quinta coluna. Faz parte da sua estratégia. Financia, organiza e estimula uma suposta oposição dentro de Cuba. Quem representa e é financiado e organizado pelos Estados Unidos está a cometer um delito grave contra os interesses da nossa nação. Essas pessoas foram presentes a tribunal e incriminadas por esse tipo de acções. Não pela sua forma de pensar. Em Cuba, há liberdade de pensamento. Pode-se pensar o que se quiser. Outra coisa é actuar. |
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Capitalismo está a destruir o mundo, diz filho de Che
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