"un pedacito del planeta que no pudieron no!"

Um cantinho do Brasil, orgulhosamente no Pampa Gaúcho, que quer fazer a diferença,
enxergando e discutindo problemas globais e discutindo e realizando soluções locais .

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Coexistência do Agronegócio e da Agricultura Familiar?


Os governos vêm ao longo dos anos trabalhando em cima da possibilidade de coexistência do agronegócio e da agricultura familiar. Mas, isso será mesmo possível?
Enquanto a mídia mundial trabalhou durante muitos anos, décadas, na propagação do pensamento que só é possível alimentar a população mundial com o sistema de produção do agronegócio, fomos conhecendo realidades nunca antes imaginadas. Problemas climáticos mundiais, doenças novas, extinção de milhares de espécies animais e vegetais, eram assuntos de filmes e livros de ficção científica. Enquanto a ciência avançava na descoberta de cura para novas doenças, a pesquisa sobre as causas nunca ganharam a grande mídia, fazendo com que tudo não passasse de “evolução natural” da humanidade.
E durante os anos as coisas têm funcionado desta forma, a mídia trabalha estes “acontecimentos estranhos” até que se transforme em senso comum, assim sendo, os seres que almejam chegar ao governo assim se moldam, dentro do senso comum para conseguir se eleger. Mas não param por aí, eles governam depois de eleitos desta forma e aí se criam estas e outras contradições.
Na última eleição presidencial a candidata eleita só apresentou plano de ação para agricultura familiar depois que seu opositor apresentou o dele, isso no segundo turno, atitude totalmente eleitoreira, e agente sempre votando no menos pior.No estado foi diferente, no projeto já havia especificado, o que caberia ao agronegócio, o que era da agricultura familiar e até o agronegocinho foi atendido, claro.
Então, devemos dizer aos governos: - Agricultura familiar e agronegócio são antagônicos, opostos, inconciliáveis!-
Mesmo que eu acredite que isso é óbvio, parece que não é tão lógico assim.
Vejamos alguns pontos: Sobre o monocultivo, base do agronegócio, penso que é fácil de explicar. Se você pegar uma área (que não precisa ser pequena nem grande) e colocar sobre ela um número absurdo de indivíduos da mesma espécie você estará provocando um desequilíbrio ambiental, porque cada espécie consome mais uma coisa, e muitos indivíduos iguais vão consumir muito de uma coisa só, criando a falta de algo e o excesso de outra coisa, porque o equilíbrio da natureza é medido na relação da sua variedade, a biodiversidade. Pode ser uma lavoura de soja, milho ou eucalipto ou ainda uma lotação de vacas, bois ou ovelhas, necessariamente vai haver desequilíbrio nesta área. Pragas vão surgir, haverá uma degradação do ambiente que conseqüentemente irá debilitar os indivíduos que ali estiverem então, serão utilizados produtos na tentativa de amenizar os problemas. Ai me dizem:- Mas não existem formas agroecológicas para sanar estes problemas graves!- e eu respondo- Não! Não existem formas agroecológicas para resolver problemas posteriores ao princípio já concluso!- ou seja, se o agroecologia tem como princípio básico a diversidade de produção e de vida, como utilizar dela para “sanar” os problemas do monocultivo? Não dá meu caro! Porque são coisas antagônicas meu caro, de princípio a fim!
A monocultura é inviável para agricultura familiar, por muitos fatores, um deles é o fato de que as pessoas hoje em dia têm gastos mensais e não conseguem dentro de suas pequenas propriedades uma produção única que lhe garanta o sustento pelo ano todo, até porque quanto menos variedade na produção, maior o número de itens a serem comprados mensalmente.
O agronegócio depende da monocultura porque ela é a única forma viável para mercantilização total da agricultura. Só os monocultivos extensivos tornam viáveis as fabricações de máquinas agrícolas, de insumos, venenos e claro, uma monocultura de sabores e cardápios, afinal graças ao mercado nós, latino-americanos, tivemos o “prazer” de consumir o soja, o café, a carne bovina e ovina, e outras inúmeras coisas importadas de todo o mundo.
Mas, é claro que não sou utópica ao ponto de querer que cada coisa volte ao seu lugar que originou. Nesse sentido até eu com estes olhos verdes não teria lugar aqui pelo Pampa. Mas nem por isso posso fechar os olhos e imaginar que um dia as coisas se ajeitam, ou pior, como li um comentário no facebook: “não vou discutir a solução mundial porque um dia virá o iluminado e nos mostrará o caminho” ARGHH!!!! Não!! Existem sim soluções sérias a muitos dos problemas que estamos como humanidade, vivenciando hoje. E digo sem medo de errar que o povo latino-americano vem mostrando que a agricultura familiar, camponesa, está incluída nestas soluções. E enquanto os governos não levarem esta questão agrária a sério, enquanto os governos não assumirem posição, enquanto os governos não pararem com esse jogo ridículo de “acender uma vela pra cada santo”, o grande capital do campo se chama agronegócio e continuará adoecendo as pessoas, eliminando espécies, desequilibrando o planeta e é claro, esmagando cotidianamente o camponês.

Marília Gonçalves

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