Segue artigo de Alfredo da Mota Menezes “A dívida dos agricultores” publicado em A Gazeta – MT, 30/01/2011.
E-mail: pox@terra.com.br; site: www.alfredomenezes.com
Publicou a imprensa que Silval Barbosa deverá se encontrar com o ministro Guido Mantega para discutir o endividamento dos agricultores do estado. Comenta-se que, frente aos problemas econômicos desses agricultores, terras estariam sendo vendidas para grupos estrangeiros.
Parece que o pedido de renegociação tem base maior em empréstimos do BNDES para máquinas. A história ensina que atrás disso podem vir outras renegociações. É função política do governador fazer o que vai fazer em Brasília. Mas essa questão das dívidas dos agricultores brasileiros é uma novela quase eterna.
Desde 1994 foram feitas quatro negociações até chegar à maior de todas em 2009 quando o Congresso aprovou a mais ampla renegociação de dívida do setor agrícola no país. Foram renegociados 75 bilhões de reais de dívida [Em 2010 o agronegócio produziu cerca de R$ 127 milhões, com superavit de R$ 105 bi]. Algo como 2.8 milhões de agricultores foram contemplados. Renegociou-se em 2009 até dívidas já renegociadas antes. Todos teriam até dez anos para pagar.
Naquela renegociação haveria descontos de 5% a 45% sobre o saldo devedor para quem fizesse o pagamento antecipado. Os juros variariam entre 3% a 12%. Com os descontos, o governo deixava de receber nove bilhões de reais.
Acreditava-se que aquela ampla renegociação faria esse assunto sumir da agenda nacional por um bom tempo. Dois anos depois ele pode está de volta. Se a conversa atual se circunscrever somente nos maquinários tem uma pergunta na rua: como é que se aceitaram as condições draconianas dos empréstimos? Não era previsível que isso iria desembocar na atual situação?
Quando se toca na dívida dos agricultores no estado parece crime de lesa-pátria. Mas é que o setor agrícola, historicamente, sempre teve algum tipo de ajuda. Têm parlamentares que sobrevivem politicamente resolvendo pendências dessa atividade econômica.
Outros setores da economia não gozam desses benefícios. Comerciantes esgoelam que nunca tiveram chance de renegociar dívidas. Ninguém vê nada disso também para a pecuária. Alguém já ouviu pecuaristas do estado pedir a governadores que fossem a Brasília renegociar suas dívidas?
O Brasil reclama muito dos subsídios que se dá na Europa e nos EUA para a agricultura. Gente nos EUA aponta o dedo para o setor agrícola brasileiro e diz que as diferentes renegociações e perdões de parte de dívidas (já se teve vez na história de se perdoar dívida inteira) seria uma maneira indireta de se dar subsídio também.
Sabe-se que a maior parte dos empréstimos dos agricultores não é com o Banco do Brasil ou com o BNDES, é com as grandes empresas comercializadoras de GRÃOS. Nunca se ouve falar em pedir renegociação com as cinco irmãs (Bunge, Cargil, Amaggi, Dreyfus e ADM), só com bancos públicos. Com elas o negócio é diferente.
Essa situação da agricultura nacional deve continuar. O mundo precisa de mais comida. Os agricultores ficarão ainda mais fortes em suas reivindicações que, aliás, vem desde o século 19.
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