Deutsche Welle
O governo brasileiro está preocupado com a repercussão internacional de Belo Monte. Diante de todas as críticas que acompanham a construção da usina hidrelétrica no rio Xingu, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, convocou a imprensa estrangeira para dar esclarecimentos sobre o empreendimento.
Atualmente, há dez processos na Justiça brasileira que questionam a maneira como o projeto está sendo conduzido pelo governo. Entre as queixas estão denúncias de irregularidades no licenciamento ambiental e desrespeito aos direitos das comunidades tradicionais e indígenas, além da viabilidade da usina.
Questionado pela Deutsche Welle sobre essas contestações judiciárias, Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, rebateu: "Belo Monte é o resultado da participação social local". E recorreu aos números: foram realizadas diversas reuniões, oficinas, fóruns técnicos, encontros com indígenas, famílias locais e audiências públicas.
A conclusão: "O Brasil é um país democrático, onde é importante haver essa discussão. Mas, alguma hora, a decisão tem que ser tomada. Depois de ouvidas todas as partes, o projeto foi bastante alterado por causa da opinião da população local", adicionou Tolmasquim.
Há controvérsias
O movimento Xingu Vivo Para Sempre não se sente incluído dessa forma. "Essa afirmação é mais uma tentativa do governo de tentar fazer com que as pessoas acreditem que esse é um processo participativo, democrático, transparente. É quase uma tentativa de fazer uma lavagem cerebral nas pessoas que estão de fora, que não acompanham o debate", contra-argumenta Renata Soares Pinheiro, uma das coordenadoras do movimento.
O grupo reúne mais de 250 organizações e movimentos sociais e ambientalistas da região de influência do projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se opuseram à sua instalação no rio Xingu.
Protestos da população indígena em Altamira em 2008 contra a construção da usina
Representantes da entidade chegaram a encaminhar uma petição à Corte Interamericana dos Direitos Humanos, apontando o descumprimento da legislação brasileira quanto à consulta dos povos indígenas sobre a construção da usina.
A polêmica é minimizada pelo presidente do órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia: "Como em qualquer processo, ao final ainda existe uma pequena minoria que não quer usina nenhuma, e que esteja disposta a odiá-la. Mas, como em qualquer sociedade democrática, isso não pode impedir o governo de dar uma solução final que seja importante para o país e para a própria região", pontua Maurício Tolmasquim.
Riscos de a usina não sair
O empreendimento obteve em janeiro a licença de instalação parcial, concedida pelo Ibama, que autoriza a instalação do canteiro e outras obras preparatórias. Por considerar tal licença ilegal, o Ministério Público Federal do Pará entrou com uma nova ação contra Belo Monte, alegando que as condicionantes previstas na licença prévia não estão sendo cumpridas.
Para Maurício Tolmasquim , no entanto, o projeto tem fundamentação suficiente para não ser barrado pela Justiça. "Mas, como em qualquer processo jurídico, a palavra final é do Judiciário. No entanto consideramos que o dossiê Belo Monte seja favorável o suficiente para que haja uma decisão favorável. E estamos confiantes."
Belo Monte é uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento e deve ser concluída até o começo de 2015, com potência instalada prevista de 11,2 mil megawatts. Questionado sobre o possível atraso das obras devido aos processos que tramitam na Justiça, o presidente da EPE diz que o abastecimento nacional de energia está seguro.Pescadores no rio Xingu
"O país tem um excedente médio até 2014 de 5 mil megawatts, considerando uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto de 5% ao ano", exemplifica Tolmasquim.
Estratégia brasileira
A construção da usina é a única saída para o futuro do abastecimento brasileiro? "O Brasil considera que é necessário usar várias alternativas para a geração de energia elétrica, e Belo Monte é apenas uma delas", respondeu à Deutsche Welle o presidente da EPE.
Tolmasquim destaca a importância do projeto no Xingu, mas diz que há outras fontes que também fazem parte da oferta de energia no país. "O Brasil é afortunado porque pode usar a energia hídrica, a dos ventos e a da biomassa de forma complementar. Na Europa, quando os ventos não sopram, a energia é complementada com termelétricas", adicionou.
Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressalta que o Brasil prioriza a exploração do seu potencial hidroelétrico, estimado em cerca de 150 mil megawatts.
"Por ser totalmente nacional, o único risco é o hidrológico (chover ou não), seu impacto ambiental é localizado e o Brasil desenvolve , em velocidade surpreendente, novas tecnologias para mitigar os impactos ambientais, sociais e econômicos. E essa é hoje a energia elétrica mais barata obtida no mundo, situando-se em torno de U$ 45 o MW/h", analisa o especialista.
Sobre Belo Monte, Castro dá destaque à construção do reservatório com a construção de uma central do tipo fio d'água, com redução do espaço alagado e as turbinas do tipo bulbo – que ficam deitadas e são acionadas pelo movimento-fluxo das águas do rio.
"Esta central hidrelétrica irá beneficiar mais de 10 milhões de famílias pelos próximos 50 anos ao menor custo do MW/h em construção no mundo atual. Qualquer país do mundo que tivesse este potencial ao seu dispor a este custo – que iria beneficiar uma quantidade tão grande de famílias, por um prazo tão longo, adotando práticas ambientais rigorosas – teria tomado a decisão de política energética que o Brasil tomou: construir Belo Monte", conclui Nivalde de Castro.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
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